Michael Bisping conquistou um título no UFC lutando com apenas um olho, e a única razão pela qual ele conseguiu continuar competindo após ficar cego de um olho foi, como ele mesmo admite, mentindo nos exames de visão para garantir a liberação para lutar.
O ex-campeão peso-médio nunca escondeu os inúmeros problemas oculares que assombraram sua carreira após um chute alto de Vitor Belfort em 2013, que lhe causou um descolamento de retina. Hoje em dia, Bisping usa uma prótese ocular no olho direito, mas ele é legalmente cego há vários anos, após múltiplas cirurgias para reparar os danos.
Os problemas começaram com o descolamento de retina da luta contra Belfort, mas Bisping revelou em seu canal no YouTube que isso foi apenas a ponta do iceberg quando se tratava de seus problemas oculares.
“Treinando para minha próxima luta, um UFC em Manchester contra Mark Munoz, eu estava treinando sparring muito forte”, disse Bisping. “É assim que você sabe que está treinando sparring muito forte: um dos meus parceiros de sparring quebrou a mão, outro quebrou o pé e eu descolei minha retina novamente.”
Outra cirurgia se seguiu e, com o tempo, Bisping desenvolveu glaucoma, uma condição que danifica o nervo óptico e pode levar à perda de visão ou cegueira, e ele teve que passar por mais uma cirurgia. Ao todo, Bisping fez seis ou sete cirurgias no olho, mas foi em um dos procedimentos finais que ele recebeu a má notícia de que sua visão havia acabado.
Apesar desse fato, Bisping admite que nunca pensou em se aposentar das lutas.
“Eu saí no dia seguinte [após a cirurgia] e descobri que nunca mais veria com aquele olho”, disse Bisping. “No entanto, eu ainda consegui continuar lutando. Não vou entrar em detalhes sobre como fiz isso, mas tive que contar muitas mentiras. Tive que trapacear em muitos testes. Foi muito, muito, muito estressante.”
Todos os lutadores são obrigados a passar por exames de visão antes de competir, mas Bisping detalhou como conseguiu contornar esses problemas depois de ficar cego de um olho.
“Nunca vou esquecer aquele médico indiano mais velho, eu estava na Inglaterra e ele queria fazer um teste de visão, e ele realmente pensa que eu estou tentando fazer meu exame de visão”, relembrou Bisping. “O que eu costumava fazer era simplesmente memorizar as tabelas [de visão] e tudo o que você precisa fazer, como eu disse, para passar em um teste é ter visão 20/200, que em um teste de visão à moda antiga é a letra grande no topo e depois as duas letras abaixo dela.
“Eu me sentei, este simpático médico indiano cobriu meu olho ruim primeiro e disse ‘OK, o que você consegue ver?’ Eu falei D, L, M, seja lá o que fosse, e então ele nem girou. Eu fingi que só conseguia ver aquelas três e ele disse ‘você está liberado para lutar, mas eu seria muito, muito cuidadoso Michael porque se alguma vez acontecer alguma coisa com seu olho bom, você vai ficar cego.’ Eu respondi que sabia, doutor, que pensaria sobre isso. Claro, eu não pensei.”
Bisping continuou encontrando maneiras de passar nesses exames de visão, inclusive antes daquela que foi, sem dúvida, a maior luta de sua carreira, quando ele acabou nocauteando Luke Rockhold para se tornar campeão peso-médio do UFC.
“Eu queria lutar e tinha que passar por médicos, exames e todo o resto”, disse Bisping. “Felizmente, consegui mentir, consegui enganar as pessoas, consegui me aproveitar de alguns médicos doces, inocentes e gentis.”
“Eu saí da sala de espera daquele médico [na Inglaterra] e pensei, vamos lá, entre! Porque eu tinha passado e isso significava que eu estava de volta e era capaz de sustentar minha família e então, eventualmente, como eu disse antes, seguir em frente e me tornar campeão mundial. É algo de que me orgulho muito e fiz isso com um olho.”
Quando ainda estava lutando, a maior preocupação de Bisping era apenas ser liberado para competir, mas quando ele começou a embarcar em uma carreira na televisão, ele percebeu que tinha que fazer algo esteticamente para cobrir o olho que efetivamente havia ficado morto depois que ele foi declarado cego.
Isso é o que levou Bisping a colocar a prótese ocular que ele ainda usa hoje, com uma lente pintada à mão que faz parecer que ele tem visão totalmente funcional, mas a verdade é que ele não enxerga com o olho direito há muitos anos.
Tadeu Ribeirão