qua. jun 4th, 2025

Renato Moicano Analisa Impasse Aspinall vs. Jones e o Acordo de TV do UFC

A saga entre Jon Jones e Tom Aspinall ganha novos capítulos diariamente nas redes sociais, com ambos os campeões peso-pesado do UFC — o linear e o interino — trocando provocações. Enquanto isso, o CEO do UFC, Dana White, repete constantemente, sempre que perguntado, que a luta de unificação acontecerá.

O veterano do UFC Renato Moicano não compartilha desse otimismo.

“Acho absurdo”, disse Moicano sobre Aspinall ser forçado a ficar parado por um tempo recorde sem a chance de unificar os cinturões. “[Jones] está fazendo a mesma coisa que [Conor] McGregor fez com [Michael] Chandler, dois anos esperando, querendo que o auge de Tom Aspinall passe. A diferença é que um é campeão — mas McGregor era mais do que um campeão porque McGregor tem o ‘hype’ de McGregor.”

Moicano acredita que White realmente quer marcar a luta. Mas, mesmo que a empresa pudesse seguir em frente rapidamente caso Jones decida se aposentar em vez de enfrentar um desafiante jovem como Aspinall, tê-lo por perto durante a negociação de um importante acordo de TV significa bons negócios.

“O UFC está em uma situação difícil porque, ao mesmo tempo em que quer resolver isso, ainda precisa de Jon Jones — pelo menos da imagem dele, assim como precisa de McGregor”, disse Moicano. “São dois problemas que o UFC preferia não ter, mas se eles mandarem esses caras se foderem, ou se os tirarem, a empresa perde muito. Não há mais espaço para estrelas como no passado. Como McGregor, como Jon Jones, como Ronda Rousey e Brock Lesnar. Está mais espalhado agora. Acho que a única estrela que teve esse tipo de apelo foi Alex Pereira, que teve e perdeu. Se ele tivesse vencido [Magomed] Ankalaev, estaria nesse nível de popularidade.”

“Mas Pereira perdeu, e Ankalaev é [campeão]. Diga-me, qual campeão é popular? Você tem [Alexandre] Pantoja, que não é popular. [Merab] Dvalishvili está ficando mais popular, mas também não é popular. [Alexander] Volkanovski é popular, mas perdeu duas vezes para Islam [Makhachev] e está mais velho — e nunca foi uma estrela global como Max Holloway. No peso-leve (70kg) você tem Islam, que é muito popular no mundo árabe, mas não impressiona a audiência americana e ocidental. Dustin Poirier teria sido um negócio melhor para o UFC. No peso-meio-médio (77kg) você tinha Belal Muhammad e agora é Jack Della Maddalena, que tem uns 300.000 seguidores, ele acabou de começar. No peso-médio (84kg), é Dricus Du Plessis, que não é popular. [Khamzat] Chimaev teria sido muito melhor. No peso-meio-pesado (93kg), é Magomed Ankalaev. Nem a mãe dele se importa com ele [risos].”

“E nos pesos pesados é Jon Jones. O UFC está nas mãos de [Jones e McGregor], mas na minha opinião eles deveriam tirar o cinturão dele e colocar Tom Aspinall para lutar com outro. Mas se você olhar para a divisão, quem mais? Ciryl Gane? Acho que Ciryl Gane é ruim. As pessoas vão me criticar, mas Ciryl Gane nem consegue soletrar jiu-jitsu, irmão. [Alexander] Volkov está fazendo de tudo, menos lutar. As pessoas não vão lutar. Então o UFC está nas mãos de Jon Jones. E acho que a luta [com Aspinall] não vai acontecer. Jon Jones está apenas ganhando tempo e não vai fazê-la porque há uma grande chance de ele perder para Tom Aspinall. Aspinall é uma nova geração de pesos pesados. Ele é rápido, atlético, e o risco não vale a pena.”

No final, Moicano sente que a ideia de ter Jones enfrentando Aspinall prejudica a promoção porque o UFC, sob o modelo de negócios atual e o acordo com a ESPN, não é incentivado a abrir o talão de cheques para lutas maiores.

“Além de criar demanda [dos fãs], dá a [Jones] alavancagem na negociação”, disse Moicano. “McGregor tem uma alavancagem absurda com o UFC. E as pessoas não entendem que o UFC fez McGregor. Você não pode pegar qualquer um e tentar repetir a receita, você precisa de uma personalidade muito específica para fazer alguém um McGregor. Mas, ao mesmo tempo, sem a máquina do UFC que pode transformar qualquer um em estrela, McGregor não teria se tornado o monstro que é hoje. O UFC tem que ter muito cuidado. Tem que observar o lobo para que ele não cresça demais, sabe? O lobo tem que ficar pequeno para assustar os outros, mas não morder o dono.”

Com o aumento das taxas de local para eventos itinerantes e um acordo de TV ainda maior no horizonte, as finanças do UFC parecem melhores do que nunca no longo prazo.

“O UFC está ganhando dinheiro de todas as formas agora, especialmente com essa mudança, a ESPN saindo e a Netflix ou Amazon chegando”, disse Moicano. “Há mais bilhões agora. Tipo, um bilhão por ano. E tipo, não importa quem está lutando. Contratando caras por 8+8 ou 10+10 no Contender [Series] e colocando-os para lutar. Tipo o Raul Rosas Jr. lutando com alguém ranqueado. Tipo o Caio Borralho, que saiu do Contender com um contrato pequeno e já estava lutando com caras duros. Você ganha? Promove esse cara. Você perde? Chame outro. A máquina deles é praticamente imbatível, então eles não se preocupam muito com nada disso.”

“Acho que eles têm essa alavancagem com Jon Jones e McGregor por causa do [acordo de TV]. Eles precisam de números para mostrar para a Netflix. Quem são os que vendem? É obviamente McGregor primeiro, depois Jon Jones, e talvez Alex Pereira [terceiro]. Mas eles precisam ter esses números para poder negociar quanto [a rede] pagará. Depois que o acordo for feito, dane-se, irmão, são mais cinco anos com dinheiro no bolso, e pensamos em tudo isso depois.”

By Ítalo Montero

Ítalo Montero - jornalista experiente de Fortaleza, especializado em cobertura de MMA e Jiu-jitsu Brasileiro. Em 12 anos de carreira, realizou centenas de entrevistas com lutadores do UFC e Bellator.

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